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Uma lente na maritimidade

Gilson Rambelli1

 

O grande literato francês, Victor Hugo, em sua obra “Trabalhadores do Mar”, parafraseando “Diálogo de Crítias”, de Platão, reafirmou que: “Existem três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que navegam...” Com esta obra, Victor Hugo retomou um conceito comum a todos aqueles que navegam, ou que estão direta ou indiretamente envolvidos com a qualquer tipo de navegação marítima: os “Homens do mar”.

O conceito de “homens do mar” pode ser estendido para “gente do mar”, o que o torna mais simpático e mais inclusivo, sobretudo no que diz respeito às discussões recentes sobre gênero, chama atenção a toda uma particularidade sociocultural que faz parte do universo marítimo e que difere consideravelmente da vida fora do mar.

Durante muito tempo acreditei que a chamada “tábua de salvação” era aquele pedaço de madeira que o náufrago se agarrava, em desespero, para garantir sua sobrevivência. De certo modo, esta minha compreensão fazia e ainda faz sentido. Afinal, um pedaço de tábua flutuando pode ajudar muito alguém que se encontra à deriva. Falo isso, porque o meu envolvimento com os temas náutico e marítimo me ensinaram que esta expressão é bastante antiga, e remonta à Antiguidade Clássica. Ela era utilizada pelos navegantes da região mediterrânica para se referirem às embarcações, propriamente ditas. Os cascos de madeira das embarcações além de simbolizarem universos culturais em suas complexidades construtivas, eles representavam metaforicamente as “tábuas de salvação” dos navegadores, seriam formas de garantir a “vida seca” sobre a “morte molhada”.

As fotografias presentes neste sítio conduzem-nos a novas descobertas! A imagética das fotos captadas por André Motta de Lima, fotógrafo e “homem do mar”, retratam a maritimidade de pessoas, sejam homens, mulheres e crianças, que têm suas vidas cotidianas marítimas, o que difere, como dissemos acima, dos que vivem a terra. Somente uma lente atenta nos aproxima do exercício de permitir-nos novas percepções. Afinal, nossa “gente do mar” e seus saberes tradicionais vão, com a licença de Shakespeare, “além do que pode imaginar nossa vã filosofia”.

 

1 Professor do Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Sergipe (DARQ-UFS); Coordenador do Laboratório de Arqueologia de Ambientes Aquáticos (LAAA-UFS).

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